Nascida em 15 de julho de 1903, em Ilhéus, no seio da tradicional família Berbert, Amélia Tavares Amado foi filha de Manoel Misael da Silva Tavares, o Coronel Misael, e de Eufrosina Berbert Tavares, a conhecida Dona Santinha. Criada numa atmosfera de valores religiosos e humanitários, desde cedo demonstrou inquietude espiritual e vocação para o bem coletivo. Devota fervorosa de Santo Antônio e de São Francisco de Assis, guiava-se por sonhos que mais pareciam visões, como aquele que a inspirou a criar uma instituição voltada para a assistência aos mais necessitados. Assim nasceu a Ação Fraternal de Itabuna (AFI), um dos maiores projetos educacionais e sociais da história da cidade.
Aos 17 anos, Amélia casou-se com Gileno Amado, advogado de seu pai e figura influente na política local. Ao lado do marido, mudou-se para Itabuna, onde o acompanhou por décadas em sua vida pública. Mãe dedicada de duas filhas — Maria Célia e Neda Silva — Amélia desempenhou com afinco os papéis de esposa e educadora do lar. Mas foi após o casamento das filhas e o afastamento político de Gileno que Amélia encontrou espaço e impulso para realizar plenamente sua vocação social. Herdando recursos após o falecimento do pai, decidiu empregá-los em benefício dos menos favorecidos, revelando-se uma empreendedora do bem-estar coletivo.
Em 13 de julho de 1947, no coração de Itabuna, na própria casa em frente à Praça Olinto Leoni, fundou o Colégio Ação Fraternal, voltado exclusivamente para a formação de moças pobres. Inicialmente, o projeto oferecia cursos profissionalizantes como datilografia e corte e costura, além do curso LEC — Ler, Escrever e Contar. A demanda cresceu rapidamente, e a residência da fundadora passou a ser inteiramente ocupada pela instituição. Dali, Amélia mudou-se para a Estância Santo Antônio, na BR-415, uma propriedade adquirida por seu esposo, e deu sequência à sua missão educativa com a mesma devoção de sempre.
Em 1952, um novo marco se ergueu: o terreno que hoje abriga o Colégio Ação Fraternal foi adquirido, consolidando o sonho de Amélia em uma sólida obra de tijolos e esperança. Seu trabalho social foi reconhecido em vida com importantes honrarias. Em 1956, o Papa Pio XII concedeu-lhe o título de Comendadora do Vaticano, cuja comenda foi entregue solenemente no ano seguinte, em seu aniversário, pelo bispo Dom Rezende Costa. Também recebeu o título de Cidadã Itabunense, numa justa homenagem da Câmara Municipal à mulher que transformou a paisagem social e educacional da cidade.

Não se limitando à educação básica, Amélia idealizou e fundou a Faculdade de Filosofia de Itabuna em 1960, abrindo novos horizontes para o pensamento crítico e a formação de professores. Em Jussari, implantou o ensino primário e o ginásio, além de liderar a instalação da Matriz de Nossa Senhora das Candeias. Sua sensibilidade artística também encontrou espaço no Teatro Estudantil Itabunense (TEI), criado por ela e que, nas décadas de 1960 e 1970, foi um polo de expressão juvenil e formação cultural. Amélia acreditava no poder transformador da arte e da educação — e deu provas concretas disso.
Junto de Gileno Amado, protagonizou experiências pioneiras em reforma agrária na região cacaueira. Aposentavam seus trabalhadores de forma digna, adquirindo pequenas roças para que pudessem viver de forma independente. Além disso, seus agregados recebiam assistência médica, cestas básicas, tecidos, seguros, bolsas de estudo e acesso à escola. Em um tempo em que não havia amparo legal aos trabalhadores, Amélia e Gileno já praticavam a justiça social como um dever moral.
Viúva, Amélia viveu seus últimos anos em serenidade e plenitude, falecendo em 27 de agosto de 1983, aos 80 anos, em Itabuna. Uma das principais avenidas da cidade leva o seu nome. Sua presença, no entanto, permanece indelével na memória coletiva da cidade. Sócia benemérita de diversas instituições, é lembrada como uma figura carismática, de firmeza católica e postura progressista. Sua obra vai além das estruturas que construiu — reside no espírito de solidariedade que deixou como herança.
Amélia Amado foi mais que esposa de um líder político: foi ela própria uma liderança no sentido mais nobre da palavra. Mulher de fé, inteligência e ação, revolucionou seu tempo com ternura e coragem. A história de Itabuna não pode ser contada sem mencionar sua contribuição definitiva. Em cada sala de aula, em cada projeto social, em cada jovem que teve a chance de sonhar mais alto, há um pouco da alma generosa de Amélia Amado — essa mulher que nos ensinou, com amor e trabalho, que o futuro se constrói com fraternidade.
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